4 de novembro de 2012

Entrevista com Ana Cristina Aguiar

Depois de alguns problemas relacionados a falha de entrega do e-mail (não é só os correios que falham gente), trazemos hoje a entrevista de Ana Cristina Aguiar, autora de A profecia de Hedhen (resenha aqui).

Ficou muito legal a entrevista, e tenho certeza que vocês irão adorar as respostas da escritora. 
Divirtam-se! 

Entrevista com Ana Cristina Aguiar


Alice Aguiar: Como foi o processo de criação do livro "A profecia de Hedhen"? 

Cristina: Quando eu comecei a pensar na história do livro, Alice, eu estava no meio de algumas pesquisas pessoais sobre o matriarcado. Eu estava na faculdade e o tema me envolveu de tal maneira que comecei a estudar por conta própria, analisando o papel da mulher na história e na religião. Juntei vários arquivos e comprei muitos livros sobre o tema. Minhas duas formações – Teologia e História – somado ao meu amor pela arte da escrita, fizeram surgir a idéia a partir de questionamentos quanto a posição da mulher nos livros de fantasia (que sempre foi meu gênero preferido). Existiam muitos livros que traziam a imagem da mulher guerreira, mas geralmente eram personagens isolados ou marginalizados. Em O Senhor dos Anéis, um dos meus livros favoritos, fiquei me perguntando por que nenhuma mulher fizera parte da Comitiva do Anel. Por que isso? As mulheres tinham que ficar sempre na posição de indefesas, submissas, sedutoras ou seres etéreos e inatingíveis? Elas não tinham o direito de lutar pelo que acreditavam? De pegar em armas e ir à luta? O espírito guerreiro já está dentro delas! A partir daí a história foi nascendo, tendo como núcleo uma história bíblica que está no livro de Juízes, capítulos 4 e 5. A história da juíza Deborah realmente me inspirou profundamente. Depois disso, deixei a imaginação fluir.

Gladys Freitas: Após o término da trilogia já tem algum livro em mente?
Cristina: Sim, Gladys! Mas devo esclarecer primeiro que não será uma trilogia, mas sim quatro livros. Quanto a um projeto futuro, já tenho pensado numa história sim, possivelmente uma nova saga de fantasia. Pretendo trabalhar, mesclando elementos de várias mitologias, a fim de humanizar os mitos, colocando-os em um pano de fundo real. No momento, estou juntando material e pesquisando quando posso, pois a saga dos Tronos da Luz ainda está sendo escrita, e não é bom perder o foco. Você tem que ter responsabilidade pelo mundo que criou, e pelos personagens que vivem nele. Isso significa dar a eles um final descente.

Larissa Alves: Quem te inspirou a começar escrever?
Cristina: Foi uma amiga, Larissa. Nós fazíamos o que hoje seria o ensino médio, e eu me encantava com as redações que ela produzia. Ela fazia textos do tipo “Meu Diálogo Com a Lua”, e todos na sala ficavam embevecidos com o que ela escrevia. Eu comecei a tentar imitá-la em minhas redações e vi que conseguia realmente tirar coisas criativas de dentro de mim! Eu comprava cadernos e criava histórias e mais histórias, que eu guardava para mim mesma. Reproduzia trechos de filmes que assistia, criava continuações para eles, até começar a criar histórias inéditas. Mas tudo isso começou com as redações.

Amanda: Algum dia você pretende retomar seus esboços, para possivelmente publicá-los?

Cristina: Sim! Inclusive, Amanda, entre meus esboços há dois livros parcialmente terminados. Um romance chamado “Viajantes”, e uma aventura arqueológica voltada mais para o público adolescente, chamada “A Tenda Peregrina”. E analisando meus velhos esboços, ainda há histórias que pretendo melhorar, pois têm potencial. Principalmente nesse momento atual, no qual eu sinto que amadureci com relação à escrita. Esses esboços já estão guardados há muito tempo, mas valem a pena ser trabalhados.

Vanessa Queiroz: Como foi criar um livro que traz vários elementos, luta da luz contra as trevas, qual foi sua inspiração? E o que você sentiu quando o livro ficou pronto?

Cristina: Vanessa, o meu livro tem uma forte inspiração bíblica, visto que um dos questionamentos que me levou a ele era de base teológica. A parte histórica da Bíblia te dá todos os elementos para uma saga de fantasia (cidades muradas, heróis, feitos sobrenaturais, heroínas, a luta do bem contra o mal, magos, feiticeiros, sacerdotes, reis, rainhas, gigantes, profecias, etc). Além disso, quando escrevi não pensei num mundo medieval, tão característico de livros assim, mas no mundo antigo. Um mundo de caravanas, desertos, mercenários, onde as armas de ferro eram temidas. Também não pensei em magia ou mitologia celta, mas criei uma magia própria para o livro. Queria fugir um pouco desse padrão Idade Média-Mitologia Celta. Apesar do tema da luta do bem contra o mal ser um clichê, o segredo está em como você vai abordá-lo. O Senhor dos Anéis mostra muito bem isso, e posso dizer que foi uma grande fonte de inspiração também, principalmente na hora de construir os personagens. Sentimentos e valores como honra e lealdade para o bem, crueldade e ganância para o mal, deram base aos personagens. Criá-lo e mesclar todos esses elementos foi uma delícia! O perigo da fantasia está em você querer ultrapassar os próprios limites que colocou naquele mundo que criou, pois são tantas possibilidades! Quando o livro ficou pronto, eu não acreditei que o havia escrito. Acho que passei uma hora estática, olhando para a palavra “FIM”. E quando o vi publicado, tornado real, com capa, diagramação, tudo! Foi emoção demais! É indescritível.

Fernanda Mendonça: Sempre que eu leio resenhas positivas sobre esse tipo de livro eu me pergunto se o autor já jogou algum sistema de RPG. E aí, Ana, já jogou RPG de mesa?

Cristina: De mesa, eu nunca joguei, Fernanda, mas quero aprender! Minha experiência com RPG vem do Playstation 2, com Valkyrie Profile, Wild Arms, Champions, Final Fantasy e Xenosaga. Mas o mundo do RPG é muito rico em fantasia e criação de lugares e personagens. Acredito que seja uma forte inspiração, mas não podemos deixar de citar que eles também são inspirados. Acho que há uma troca, visto que o estilo fantasia existe há muito tempo na literatura, mas que só agora, através dos jogos e do cinema, ele se tornou algo capaz de ser visualizado e sentido. Isso é muito bom. Fiz um jogo adaptado, baseado no meu livro, e está sendo muito divertido jogá-lo. Não chega a ser um RPG, mas tentamos deixar parecido. Além disso, acho que o RPG pode até funcionar como “laboratório” de personagens, visto que você sente o drama real do personagem que vive. Estou jogando no papel de uma profetisa e, muitas vezes, pude perceber as responsabilidades que Hulda, a profetisa do meu livro, foi obrigada a carregar. É muito gostoso.

Nardonio: Você gostaria de ter sido a autora de qual livro? Por quê?

Cristina: Olha, Nardônio, eu gostaria de ter escrito A Última Guerreira, do Steven Pressfield. Esse livro me marcou muito, principalmente quando lembro o trabalho que deu para caçá-lo. É um livro de personagens fortes, imagens violentas de guerra, debates entre o selvagem e o civilizado. As guerreiras amazonas são mostradas de uma forma nunca vista em um livro, a ponto de você achar realmente que elas existiram além do mito. O fato é que não me conformei com o final. Para mim, não tinha que ter terminado ali. Alguns personagens secundários deveriam ter sido mais explorados, assim como algumas cenas. Foi um livro que suscitou em mim diversas emoções, e eu choro toda vez que leio, porque algo arde no peito, fica a sensação de que faltou algo mais. Mas é um livro com imagens desnecessárias de carnificina (que eu eliminaria se fosse a autora, ou pelo menos amenizaria). Então, eu gostaria de tê-lo escrito, talvez, para lhe dar um final mais feliz. É o que a gente espera depois de tanto sofrimento.

Ana Caroline de Oliveira: Qual você acha que é o ponto alto da sua história? Por quê?

Cristina: Ana, o final do livro é o ápice, aquele ponto para onde tudo converge. Todos os questionamentos, sofrimentos, renúncias, e esperanças que envolvem os personagens, irão se concentrar ali. Não posso falar do que se trata, mas é um acontecimento de fundamental importância e esclarecimento. Um fato que a própria Profecia mantinha em oculto, e que só é revelado na segunda parte do livro. Este fato é o ponto alto da história, porque depois dele muitas mudanças ocorrerão. Infelizmente falar sobre ele seria considerado spoiler. 

Nardonio: Qual gênero literário você jamais escreveria?

Cristina: Gosto de escrever sobre relacionamentos, Nardônio, seja no contexto do mundo real ou de fantasia. Nos meus outros esboços, eu sempre exploro o relacionamento entre irmãos, pais e filhos, homem e mulher, amigos, e o romance ficcional me dá tudo o que eu preciso. É difícil dizer que jamais escreveria tal gênero, pois isso vai depender da idéia a ser trabalhada. Mas se eu tivesse que taxativamente apontar um gênero, seria a poesia. Eu acho lindo, mas sou péssima com versos.

Perdidas: No livro, os personagens femininos têm uma personalidade muito forte. Isso foi proposital ou apenas aconteceu naturalmente durante a produção da obra?

Cristina:  Olhem, meninas, isso tem relação com a minha visão de ser uma mulher. Chega dessa história de que a parte da razão cabe ao homem e a da emoção à mulher. A mulher não é só emoção. Dentro do mundo da personalidade feminina, você encontra outros atributos, como intuição, inteligência, coragem, inconformidade, liderança, raciocínio lógico, entre outras coisas. O que fiz foi explorar isso. Quis contextualizar tudo dentro de um mundo matriarcal para ter justamente a liberdade de trabalhar, sem me preocupar com uma realidade de “mulher submissa querendo se tornar independente”. Queria falar do mundo feminino da maneira que eu o sinto. Nós somos guerreiras, todas nós. É claro que no decorrer da história, as personalidades vão surgindo com mais força, como no caso de Jael e Rute, por exemplo. De início, ambas são imaturas, impulsivas, mas há uma mudança, um amadurecimento, um crescimento. E eu adoro deixar isso fluir.


19 comentários

  1. Nossa adorei a entrevista, ela é muito simpática e objetiva

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  2. ameei a entrevistas, as perguntas tavam inspiradas e as respostas foram ótimas!!

    beeeijo!

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  3. Muitoo legal.. adoro dar uma de repórter rsrsrsrr

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  4. gente eu gostei muito da pergunta do nardonio.
    adorei a entrevista,ela é muito simpatica

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  5. Ótimo! É muito bom ver a mulher ganhando destaque como guerreira, principalmente numa obra de fantasia, onde isso é bem raro.

    queridos-sapiens.blogspot.com.br

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  6. Essas entrevistas nos fazem conhecer um pouco mais dos autores, :)

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  7. Vcs sempre tem otimas entrevistas espero ver mais por aqui o/

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  8. Muito bom conhecer um pouco mais da autora, adoro as entrevistas.
    Ana Cristina Aguiar é adorável!

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  9. Nossa gostei muito da entrevista ela é uma Fofa né!!Ainda não li o livro mais gostei muito das resenhas que jah andei lendo to curiosa msm ;) Como foi citado em outro comentários tbm fico super Feliz de uma autora estar se destacando como um tema que aparenta masculino!!AMEI ♥

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  10. É um mundo interessante a cabeça dessa pessoas, fico impressionada! E fascinante! Gostei desse livro.

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  11. Nossa esse post ficou incrível!
    Adorei a entrevista com a Alice Aguiar,principalmente porque duas das perguntas são minhas(Como foi criar um livro que traz vários elementos, luta da luz contra as trevas, qual foi sua inspiração? E o que você sentiu quando o livro ficou pronto?), e também porque queria realmente saber um pouco mais sobre o livro,fiquei mais ainda interessada e com certeza está na minha lista!!!

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  12. adoro essas entrevistas, fazem com que o leitor se aproxime mais da autora ou do autor

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  13. Muito boa a entrevista ainda não conhecia a autora, é maravilhoso saber as raízes literárias que a inspiram, seus pontos de vistas, ou seja tudo aquilo que a cerca e a faz tomar decisões na hora de escrever um livro. Parabéns pela entrevista.

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  14. adorei a entrevista, muito simpática ela

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  15. Adorei a entrevista, super simpática, obrigada meninas graças a vocês podemos conhecer um pouco mais sobre nossos escritores.
    Bjks

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  16. Ai que querida, ela gosta de SdA!!!'

    nunca tinha ouvido falar do livro ou da autora, mas só por isso fiquei com vontade de ler IUASHIAUSHiuaSH

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  17. Que entrevista incrível. Achei a Ana Cristina Aguiar de uma simplicidade impressionante. Espero que ela faça muito sucesso, pois ela merece.

    @_Dom_Dom

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  18. Adorei a entrevista.. E achei a autora muito simpática...

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  19. Outra ótima entrevista, legal esse livro dele, pesquisei aqui pra saber mais e é uma boa história.

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