Dois Garotos se Beijando por David Levithan

Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
ISBN: 9788501102096
Ano: 2015
Páginas: 224
Classificação: 

Dois Garotos se Beijando - Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer. 

Esta resenha, com certeza é uma das resenhas mais difíceis que já escrevi. Este livro toca em temas tão sensíveis, e tão atuais, que realmente consegue chamar a atenção daquele que se propõe a se aventurar neste romance. Como vocês podem ver, minha avaliação foi máxima, e vou tentar explicar o porquê.

"Dois Garotos se Beijando" conta a história de Harry e Craig, que querem quebrar o recorde do beijo mais longo, e entrarem para o livro dos recordes. Só que ao mesmo tempo, nos é contado a história de diversos outros jovens gays.

Quando eu comecei a escrever essa resenha, eu estava conversando com a Natália, e disse que estava pensando em fazer em vídeo, porque não conseguia expressar tudo o que aprendi e entendi com esse livro. Ele é um dos melhores livros que já li, com certeza até agora, o melhor que li no ano. Não falo isso pelo fato dos dois garotos tentarem quebrar o recorde do beijo, mas pela forma como é narrado. David apostou numa narração que elevou o nível dessa obra, e mostrou o quão brilhante este autor é. Como a sinopse já nos indica, o livro nos é narrado na terceira pessoa do plural (Nós), estes narradores são gays já mortos pela Aids.

É incrível como o autor consegue criar diversos personagens paralelos, e ir nos contando suas vidas e seus problemas simultâneos ao grande beijo de Harry e Craig. A história de Peter e Neil, Ryan e Avery, Tariq e Cooper nos são apresentadas em apenas 32 horas em que o beijo ocorre. 

Pessoal, me perdoem se essa resenha ficar um pouco confusa, estou realmente me esforçando bastante para conseguir expor tudo da melhor forma possível. Então vamos lá, agora vou contar um pouco da vida de cada personagem...

Peter e Neil são um casal de namorados, que vivem situações diferentes com suas famílias. Enquanto Peter é totalmente assumido e apoiado dentro de casa, Neil já tem dificuldade em ser aceito. Sua família, apesar de saber de sua sexualidade (não falo orientação sexual, por que ser gay, ao meu ver não é escolha, e sim algo que já nasce com a pessoa), não o apoia e finge nem se importar com esse lado do filho, gerando certo desconforto em Neil. O que o livro nos conta desses dois, são coisas de um casal normal, o que amei nesse livro foi justamente como ele deixa claro a seu leitor, que gays são seres humanos normais, e que compartilham dos mesmos sentimentos de heterossexuais. Como a insegurança de um dos dois ajuda na construção do relacionamento, como o ciúme é presente em qualquer relacionamento e etc...

Ryan e Avery já é outro casal, que nos é apresentado de uma forma um pouco diferente. Na verdade, eles não são um casal ainda. Acompanhamos todo o envolvimento inicial dos dois, e como a relação deles avança. Ryan é um jovem gay de cabelo azul, que tem uma tia que é sua maior confidente. Enquanto Avery é um transgênero (no caso do livro, é um menino que nasceu no corpo de uma menina), que sente medo do que todos irão pensar ao seu respeito. E mais uma vez, o que vemos prevalecer na história é o amor, independente de qualquer outra coisa. Eles se conhecem num baile, e a partir desse dia, começam a se conhecer melhor...

Tariq é um jovem bem feliz consigo mesmo, que gosta de sair para dançar e curtir sua vida. Até que em uma noite infeliz, ele é vítima de espancamento na rua, simplesmente por ser gay. E a partir deste momento, ele agora é assombrado por um medo constante, que vai segui-lo pelo resto de sua vida. Enquanto Tariq estava se recuperando dos ferimentos, Craig (que não era amigo de Tariq, apenas conhecido) foi visitá-lo e ficou muito comovido com o que viu, e foi deste fato que surgiu a grande ideia do beijo com Harry (ex namorado e atual melhor amigo de Craig), como uma forma de protesto contra essa sociedade homofóbica e opressora.

E também tem Cooper, um jovem que utiliza redes sociais gays para entrar em contato com outros homens. Vive frequentando salas de bate-papo virtuais em seu notebook, até que seu pai descobre e tem a pior reação do mundo: agressões, xingamentos e preconceito. E até sua mãe, não dá o apoio que o jovem precisa, então como sempre foi um jovem solitário, Cooper sai de casa e vai dar uma volta para refletir e pensar em sua vida. 

Lembrando, que nada do que citei acima é spoiler. Por que todas essas histórias são iniciadas a partir do que foi citado. E todas se relacionam através do grande beijo de Harry e Craig, pois os dois jovens transmitem ao vivo pela internet, e faz com que todos fiquem sabendo do que está acontecendo. O mundo se conecta e passa a acompanhar esse ato de coragem dos garotos, e até certo momento eles chegam a meio milhão de telespectadores. 

Já tendo feito um resumo, agora vou explicar o que torna essa obra tão marcante. Como já citei acima, a narração com certeza é o maior destaque, mas ela vem acompanhada de outros elementos que contribuíram para o funcionamento desse livro, como: 

(Utilizarei trechos do livro para justificar cada item que irei citar)

- As bandeiras críticas que o autor levanta (não somente a causa homossexual, mas social); 

" Ryan pergunta a Avery sobre o cabelo rosa. - Eu sei, é uma escolha estranha de cor, né? Pra um garoto que nasceu garota e quer ser visto como garoto. Mas pense bem: só mostra o quanto sexo é arbitrário. Rosa é feminino, mas por quê? Garotas são mais cor-de-rosa do que garotos? Garotos são mais azuis do que garotas? É uma coisa que vivem nos dizendo, principalmente pra que as outras coisas possam ser vendidas pra nós. Meu cabelo pode ser rosa porque sou garoto. Seu cabelo pode ser azul porque você é garota. Se você se livrar de toda a merd# arbitrária com a qual a sociedade controla a gente, vai se sentir mais livre, e, se você se sentir mais livre, vai se sentir mais feliz. " - pág 77.

Neste caso, fiquei muito surpreso de ver críticas desse modo a nossa sociedade, David aqui está incentivando a felicidade independente da causa homossexual. Dessa forma ele consegue se aproximar a um público não somente gay.

- A descrição detalhada de cada personagem evidenciando a humanidade de cada um, facilitando a identificação do leitor com os personagens independentes de sexualidade; 

" Eis o que não admitimos nos primeiros beijos: uma das coisas mais gratificantes é que eles são a prova verdadeira de que outra pessoa quer nos beijar. Somos desejáveis.  Desejamos.  Todos os beijos que importam contêm um reconhecimento em seu núcleo." - pág 108  

Neste caso, vemos uma característica de um personagem, que na verdade serve para qualquer personagem ou pessoa, por que ser desejável é algo de senso comum. Todos gostam do sentimento e compartilham isso independente de sexualidade. Mais uma vez, David prova escrever para qualquer público mesmo a temática do livro sendo gay. 

Com esses exemplos acima, eu só quis evidenciar a vocês que, mesmo o livro se tratando de uma temática gay, e só ser baseado em personagens gays, ele atinge qualquer público. Heterossexual ou Homossexual, você consegue se encantar com o livro. Depois dessa obra, virei fã declarado do autor e estou caçando outros títulos para ler. 

Espero que tenha conseguido ser claro nesta resenha, e espero que tenham gostado. Aconselho todos a lerem, e se permitirem conhecer um pouco mais desse mundo, assim como eu me permiti. Afinal, preconceito nunca leva ninguém a lugar nenhum, e a ignorância só atrasa nossas vidas. 

Toda forma de amor é válida! Abraços...