O Sétimo Filho por Joseph Delaney

Autor: Joseph Delaney
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528620153
Ano: 2015
Páginas: 512
Classificação: 

O Sétimo Filho - Em um mundo dividido entre luz e trevas, John Gregory, o Caça-Feitiço, é o sétimo filho de um sétimo filho e mantém uma cidade do século XVIII relativamente bem e longe dos maus espíritos. No entanto, ele não é mais jovem e suas tentativas de treinar um sucessor foram todas mal sucedidas - os pouquíssimos que terminaram o aprendizado são medíocres ou fracos ou covardes,e não se igualam a ele. Sua última esperança é um menino chamado Thomas Ward, também sétimo filho de um sétimo filho. De alguma forma, Thomas terá de aprender a exorcizar fantasmas, deter feiticeiras e amansar ogros que surgem sempre que o sol se põe. Seu primeiro desafio será grande - ele terá de enfrentar a Mãe Malkin, a mais terrível e poderosa feiticeira do Condado. O Sétimo Filho reúne os dois primeiros volumes da série 'As Aventuras do Caça-Feitiço' - 'O Aprendiz' e 'A Maldição'.

Pra inicio de conversa, esqueça qualquer informação que você absorveu no filme e prepare-se para se irritar bastante com quem adaptou a história.

Em “O Sétimo Filho”, obra que reúne os dois primeiros volumes da série, você acompanha, numa narração em primeira pessoa, de como é ser um aprendiz de Caça-Feitiços, uma profissão que se resume em livrar condados de criaturas problemáticas. Nosso personagem principal é Thomas Ward, um menino de 13 anos que é o sétimo filho de um sétimo filho. Como de costume, o filho primogênito herda as terras da família e o Pai cobra favores de amigos para conseguir profissões aos filhos. É de se imaginar, não sobra muita coisa para um “sétimo filho” e o pai de Thomas implora ao Caça-feitiços que aceite seu filho como aprendiz. Como um “sétimo filho de um sétimo filho” possui uma certa facilidade para assuntos místicos, o Caça-feitiços acaba aceitando a proposta.

Eu particularmente, achei o livro muito bom. O fato de Thomas ser um “sétimo filho de um sétimo filho” (prometo parar de repetir isso rs) em si, não o torna “o menino especial” como estamos acostumados a ver em outras historias. Você percebe que em alguns conflitos, ele realmente tem o sentido mais apurado que o normal e mesmo em momentos de desespero o próprio instinto dele consegue falar mais alto, mas no final o que faz a diferença é o ensinamento que ele recebeu e a prática exaustiva que o seu mestre lhe impõe.

O primeiro livro aborda o inicio de aprendizado do rapaz e o confronto contra a Mãe Malkin, mas repito, esqueça o filme. Thomas está diretamente envolvido com a fuga de Mãe Malkin e é interessante a forma que o autor relaciona isso. Você percebe a ingenuidade e a falta de experiência do personagem sem que isso pareça algo extremamente idiota. Até mesmo a narrativa do personagem em primeira pessoa facilita com que você ache compreensível as escolhas tomadas. Em “O Aprendiz” a historia flui de maneira incrível, numa narrativa que está o tempo todo trazendo novidades. O Caça-Feitiços apresenta os tipos de Feiticeiras, Ogros e Fantasmas, assim como a maneira como são classificados numa numeração de I à X (Alg. Romano), que pode significar de inofensivo à extremamente perigosos.

Já no segundo volume, “A Maldição”, Thomas está com apenas seis meses de experiência, mas já tem muito mais experiência que a maioria dos aprendizes anteriores. Dessa vez, John Gregory e Thomas Ward enfrentam o “Flagelo”, uma entidade que em um confronto anterior quase matou o próprio caça-feitiços. Assim como no primeiro volume, o livro não se prende a batalhas longas descritas em múltiplas paginas. Na grande maioria os conflitos são descritos em poucas paginas. O foco do livro está mais no conflito dos personagens, os sacrifícios que precisam ser feitos e o suspense em tempo real vivido por Thomas. Embora o livro conte com diversas viagens, em momento nenhum você se vê preso a paginas inteiras descrevendo os locais, o que torna a leitura muito mais suave e empolgante.

Eu realmente fiquei em dúvida se deveria abordar as diferenças entre o filme e o livro, por elas serem inúmeras, mas vou citar as mais dolorosas. Pra início temos a diferença básica de idade tanto de Thomas quanto Alice, que no livro têm 13 anos de idade. De inicio eu imaginei que isso não faria muita diferença, mas a inocência de Thomas e a maneira que ele vai amadurecendo é uma parte de peso do livro.
No livro, Thomas não conhece Alice salvando ela e muito menos já com segundas intenções como mostra o filme. Na verdade, Alice é que salva Thomas de tomar uma surra de alguns garotos, o que o deixa devendo um favor a Alice. Um fato que vai mudar completamente sua história, por mais simples que a dívida pareça.
Como eu disse antes, o nosso jovem aprendiz bobinho e inexperiente, é um dos responsáveis por libertar Mãe Malkin e gerar o conflito do primeiro livro. A Feiticeira Anciã supracitada também não é nada bonita, a não ser que você curta velhas semi-decompostas, com cabelos grisalhos desgrenhados e com bafo de sangue apodrecido. Afinal a mulher passou anos presa dentro de uma cova, não há magia que aguente.
A Mãe de Thomas ficou totalmente apagada no filme. Já na história ela é um dos personagens mais intrigantes. Ela possui um conhecimento fora do normal, superando em alguns casos até mesmo o mestre de seu filho. Quando ela entra na história, a solução é imediata e qualquer dúvida é solucionada. O retrato perfeito de toda mãe, só que aprimorado com conhecimentos místicos.
E por ultimo, o Caça-feitiços é totalmente contra queimar alguém. Na verdade ele é totalmente contra matar alguém, o que explica a solução das covas. O fato de ele ser totalmente contra a morte por fogo é o que gera o desespero de Thomas no segundo livro, quando o Velho Gregory é condenado à fogueira, logo a morte que ele mais abomina (Não, isso não é Spoiler, eu chamo de "deixar curioso"). Quando eu vi no filme a cena que ele queima o Aprendiz anterior, eu realmente precisei conferir se estava assistindo o filme certo.
Eu poderia dizer que na verdade Billy Bradley, o aprendiz anterior, não morreu por culpa da Mãe Malkin e muito menos pelas mãos do Caça-Feitiços, e sim por um Ogro; Poderia dizer que o Ogro "domesticado" do Caça-Feitiços é totalmente diferente (pra melhor) do que aquele ser retardado que aparece no filme; Poderia pedir que você tirasse da cabeça aquilo da Mãe Malkin se transformando em dragão.. Mas prefiro pedir que você encare como duas obras totalmente distintas. Nem preciso dizer que o livro é exponencialmente melhor.

Mas vamos lá, nem tudo é perfeito. A maneira que os "grandes inimigos" são derrotados pelo pupilo do Caça-feitiços também deixa um pouco a desejar, mas isso vai depender muito do seu gosto. Por um lado, o livro mostra uma imagem mais realista de uma batalha, mostrando que o que conta na hora "H" mesmo é a sorte, um pouco de prática e principalmente: Instinto. Por outro lado, você vai sentir um pouco de falta de vitorias triunfantes e cheias de méritos.
Os métodos de combate, pelo menos nesses dois primeiros livros, também parecem se resumir a covas, sal, ferro e correntes de prata.
No final do segundo livro faltou também um pouco de incentivo para que as pessoas continuem a ler a sequência. É como se você pudesse escolher facilmente entre parar no segundo livro sem peso na consciência ou se aventurar em mais seis livros da sequência.

Em resumo, é uma leitura que com certeza vale a pena. Não é um livro com um universo totalmente novo, mas possui personagens muito bem definidos e uma historia muito envolvente. Merece 4 estrelas!