A Curiosidade por Stephen P. Kiernan

Autor: Stephen P. Kiernan
Editora: Verus
Ano: 2015
ISBN: 9788576863021
Páginas: 392
Classificação:

A cientista Kate Philo e sua equipe em um projeto revolucionário de criogenia fazem uma descoberta impressionante no Ártico: o corpo de um homem enterrado no gelo. O ambicioso chefe do projeto ordena que o homem seja levado para o laboratório, em Boston, e reanimado — o que é feito com sucesso. À medida que o homem começa a recuperar a memória, a equipe descobre que ele foi — ou melhor, é — Jeremiah Rice, um juiz, e a última coisa de que ele se lembra é a queda no oceano Ártico em 1906. Unidos por circunstâncias além de seu controle, Kate e Jeremiah se tornam próximos. Mas o tempo está passando, e Jeremiah percebe que sua vida está mais uma vez em risco. Muito em breve Kate deverá decidir até onde está disposta a ir para proteger o homem que aprendeu a amar. A curiosidade é um thriller emocionante, comovente e original que levanta questões perturbadoras sobre a natureza da vida e da humanidade.

Esse livro me fez descobrir uma mega utilidade em ler livros ruins. Antes de começar a ler A Curiosidade, eu li um livro um tanto quanto cansativo com 256 dolorosas páginas. E imediatamente depois comecei com esse romance escrito por Stephen P. Kiernan. Tudo bem, a disputa não foi muito bem equilibrada, mas um fator pode ser comparado. Esse é o primeiro romance escrito por Stephen, que por sinal se saiu muito bem. A sensação de sair de um livro "zero estrelas" para esse, foi como trocar um prato de miojo por um pedaço de lasanha.

Então vamos aos detalhes, partindo do principio que você já leu a sinopse. A história é contada através dos olhos de quatro personagens diferentes, cada um dando ênfase a um aspecto diferente dos eventos, sempre um dando continuidade ao ponto do outro (em uma palavra eu definiria como: espetacular), Temos a visão da Dra. Philo que é uma apaixonada por ciência e pelo seu trabalho, embora tenha que lidar com seu chefe arrogante e que visa sempre o lucro, independente de que limites éticos sua pesquisa precisa ultrapassar. Esse último descrito é Carthage. Contamos também com a narração de Daniel Dixon, um repórter, que vê no projeto de Carthage, a chance de se tornar reconhecido. E por último, temos a narração de Jeremiah Rice, um homem encontrado congelado durante a expedição de Kate e sua equipe e que foi reanimado pelo "Projeto Lázaro". Em resumo, temos Kate trazendo a beleza da ciência; Carthage com seus planos para se tornar uma lenda através do sucesso do seu projeto; Daniel Dixon detalhando de maneira engraçada e criativa o caminhar do projeto; e a misteriosa narração de Jeremiah, que aos poucos recobra sua memória e descobre um novo mundo já que ficou congelado por mais de cem anos.

Todos os personagens foram muito bem escritos. Realmente todos. Cada um muito bem definido e com seu grau de peso na história. Cada detalhe, até mesmo na maneira que o personagem conta o decorrer dos fatos, só torna o livro uma obra de arte mesmo. Fica bem claro que o foco do autor foi desenvolver a personalidade de cada um.

A Curiosidade é um livro pra ser degustado. A parte mais interessante, pra mim pelo menos, é o lado de  "como seria se um cara, depois de cem anos congelado, caísse de paraquedas numa sociedade como a de hoje". Como seria descobrir, assim de cara, que o homem descobriu como voar, o mais ambicioso dos sonhos, e que logo usou isso para criar a maior tragédia da humanidade. Dois bombardeios que eliminaram em segundos duas cidades. Essa interação é a beleza do livro.
O livro foge bastante de qualquer esteriótipo, exceto no ponto de fanatismo religioso, nesse ponto ele abusou demais, ficou mega estereotipado. Do tipo de tampar os ouvidos e ficar falando: "não estou te ouvindo, não estou te ouvindo" rs. Pegou pesado. Mas em todos os outros aspectos, nada de história clichê. É o tipo de livro que deixa aberto para você ter o seu ponto de vista. Ao longo do livro, você sente a tentativa de mostrar a relação entre amor e curiosidade. Em um ponto ele chega descrever que amar também é a sede de conhecer cada vez mais algo.

Só pra não dizer que não tinha nada de ruim no livro, uma coisa que quase pode ser chamada de "negativa" (e põe aspas aí) é que, por exemplo, eu gostava muito quando a história era narrada pela Kate ou pelo Jeremiah. Quando ela começava a ser narrada pelo Carthage, eu ficava querendo que o capítulo acabasse logo pra entrar outro narrando rs. Claro que é questão de gosto, mas vai por mim, você vai sentir o mesmo. Por mais que não seja com os personagens citados, ou na minha ordem, mas acho bem provável.

Um outro ponto também, é que em alguns trechos e até mesmo capítulos, eu sentia que aquele pedaço podia ser facilmente retirado sem fazer diferença nenhuma. Como eu disse anteriormente, tem pedaços que estão ali mesmo só pra você interagir com a maneira que os personagens enxergam o mundo. É super importante você começar a ler o livro já sabendo que esse é o propósito do autor. Se você se fechar pra esse tipo de comunicação com a obra, pode ser que sua experiencia não seja das melhores.

Bom, pra mim merece 4 estrelas. Não é o tipo de livro que a cada capitulo você vai receber uma revelação surpreendente, mas cada capítulo é muito bem escrito. Se eu fizesse qualquer comentário sobre o final, iria acabar revelando o rumo da história, então prefiro dizer que acabou da maneira que realmente deveria acabar e que o autor descreve bem o que aconteceu com cada um, ou com quase todos rs. Mas pode ficar tranquilo, termina sem pontas soltas!

Resumir quase quatrocentas páginas nessa resenha com certeza seria impossível, mas a essência é essa. Mesmo que eu ache bem possível que você acabe lendo o livro e ressaltando outros pontos, o que é bem provável. Mas o livro realmente abre margem para isso. Não é um livro para apenas ler. É um livro pra ser interpretado. E com certeza não vai gerar decepções. Vale a pena a leitura. É um livro que eu facilmente indicaria pra qualquer um que curte uma boa leitura sem pressa.